Biodiesel

Bastou por os pés em solo brasileiro, em 1999, para o químico alemão Rolf-Dieter Acker compreender o porquê da fama internacional de que passar pela América do Sul, e pelo Brasil, é estágio final para galgar postos mais altos na companhia química Basf. De cara, deparou-se com a desvalorização do real, depois de cerca de cinco anos de estabilidade da moeda. Teve de reorganizar a operação que ainda estava por conhecer melhor. Reduzir estoques. Fazer ajustes em prazos e custos. Mal as mudanças começaram a surtir efeito nas unidades do Brasil, que vendem nada menos do que 6 mil produtos diferentes, foi a vez da Argentina enfrentar uma das maiores crises de sua história, em 2001. "Na Europa e nos Estados Unidos os mercados são mais estáveis", disse Acker, que comemora a estabilidade dos últimos anos e a fase de crescimento da América do Sul, região pela qual é responsável.

Por aqui, as vendas foram 24% maiores em 2007 e alcançaram € 2,7 bilhões. Praticamente todas as áreas avançaram dois dígitos. O Brasil contribuiu com € 1,63 bilhão desse total e alta de 18%. "O percentual é menor porque no País os volumes são muito maiores." Apesar do crescimento expressivo da região - em 2007 o lucro somou € 311 milhões e ficou 45% acima do ano anterior, e as vendas deste ano cresceram outros 10% no primeiro trimestre - as operações locais têm representatividade limitada nos € 58 bilhões faturados pela companhia em 2007. Entre os desafios para os próximos anos, Acker ressalta a tarefa de fazer a operação sul-americana galgar percentuais de alta acima dos registrados pelos mercados em que atua, identificando oportunidades locais e dentro do conceito de sustentabilidade implantado pela matriz

Com a tranqüilidade de quem já enfrentou muitas fases turbulentas e já respondeu pela comunicação mundial da Basf depois de um período na área de genética, o executivo elenca nesta entrevista à Gazeta Mercantil, as áreas agrícola, de tintas e automotiva como algumas das de maior potencial de desenvolvimento. A área agrícola no Brasil é hoje a "menina dos olhos" da companhia alemã, respondendo por 30% da receita local, ante os 7% obtidos globalmente pela área. E, com o posicionamento do País no fornecimento mundial de alimentos, tudo indica que o segmento deve se fortalecer ainda mais.

Gazeta Mercantil - Quais os desafios para a companhia na região para os próximos anos?
Um dos desafios é crescer acima do mercado no Brasil em todas as áreas, e outro é crescer com novos negócios. Oportunidades que o Brasil oferece, por exemplo, em recursos renováveis, agricultura, mineração, madeira. As empresas químicas tendem a ter um portfólio de produtos cada vez mais adaptado à região. Hoje já temos um portfólio para Ásia, um para os Estados Unidos, um para a Europa e outro na América do Sul. É natural essa diferença e vai ser maior. A forma de atendimento ao cliente é um exemplo. O desafio para todo mundo da Basf na América do Sul é saber quais são as oportunidades que poderemos identificar para crescer com o mercado, novos negócios, considerando pilares fortes, que o País pode oferecer

Gazeta Mercantil - Quais os principais mercados para a companhia?
Primeiro Europa, segundo Estados Unidos e terceiro a Ásia.

Gazeta Mercantil - E em potencial de crescimento ?
A Ásia vem primeiro. Acredito que vai superar o mercado europeu em 2011.

Gazeta Mercantil - Como o Brasil participa no mercado externo?
O Brasil vendeu US$ 200 milhões no exterior em 2007, o maior produto isolado é defensivo agrícola. Havia sido US$ 160 milhões no ano anterior.

Gazeta Mercantil - Qual é o principal negócio para a Basf no Brasil?
É o agronegócio. São basicamente defensivos agrícolas e esse negócio tem muito peso e deve crescer no futuro com os avanço da agricultura no Brasil em função da necessidade mundial por alimentos. Aqui a área responde por mais ou menos 30% das vendas enquanto que no mundo esse negócio representa 7%.

Gazeta Mercantil - Qual a representatividade das demais áreas?
Temos 6 mil produtos. Gerenciar essa complexidade é a chave do sucesso ao longo destes 140 anos de aprendizado. No Brasil, depois da agricultura, 20% das vendas resultam das tintas, a maioria é a tinta imobiliária Suvinil. Há também tintas para automóveis e para repintura. Mas temos vários negócios, o mais recente anunciado agora é a produção de catalisadores para produção de combustível, biodiesel.

Gazeta Mercantil - Qual a tendência para o mercado de tintas?
A Suvinil é a única marca de consumo que a Basf tem no Brasil e é líder no mercado, onde queremos manter nossa posição forte e crescer.

Gazeta Mercantil - No mundo qual o negócio mais representativo ?
São produtos químicos e plásticos

Gazeta Mercantil - Qual a expectativa de venda para este ano?
Basicamente esperamos bom crescimento na agricultura, indústria automotiva e também na construção.

Gazeta Mercantil - Esses bons resultados vão demandar investimentos?
Já anunciamos o investimento na produção de metilato de sódio (um catalisador) para biodiesel e isso significa que a Basf tem muita confiança no crescimento dessa área no País, de recursos renováveis. Duplicamos também nossa capacidade de tecnologia ambiental, catalisadores para automóveis. Temos uma fábrica em Campinas (SP). Além disso, fizemos um investimento de € 2 milhões em uma fábrica de PCE (éter policarboxilato - aditivo superplastificante usado na indústria de concreto), em Guaratinguetá (SP). A produção começou há dois meses. Temos também investimentos em Jaboatão dos Guararapes (PE), na área das tintas, de R$ 4,5 milhões para melhor atendimento da região Nordeste. E os US$ 200 milhões previstos até 2012 em manutenção e eliminação de gargalos da produção. A maior parte desse investimento, 90%, fica no Brasil onde temos o maior site da América do Sul, em Guaratinguetá, e vamos crescer lá. Temos também alguns pequenos investimentos em outros países da América do Sul, mas são basicamente para o mercado local. Quando queremos exportar alguma coisa exportamos a partir do Brasil.

Gazeta Mercantil - Qual o maior site da companhia?
É o da Alemanha com sete quilômetros quadrados 350 fábricas e 6 milhões de toneladas de produção por ano. A Basf mundial tem 8 mil produtos pela sinergia faz sentido estrategicamente e tecnicamente colocar as unidades juntas, há ganhos com energia, fluxo de produtos, tratamento do meio-ambiente dentre outras vantagens. A unidade de Guaratinguetá está entre as 15 maiores do mundo.

Gazeta Mercantil - Como está o processo de aquisições?
A Basf mundial está sempre procurando oportunidades. Agora não está bom para fazer aquisições porque o mercado está aquecido. Tem muitos investidores que já compraram e querem revender com preços altíssimos, por isso não é muito recomendável fazer aquisições nesta conjuntura em momento de pico.

Gazeta Mercantil - Mas também tem mercado crescente...
É verdade, por isso quando surge uma oportunidade é preciso identificar sinergia. Quando há grande sinergia vale a pena. Por isso estamos estudando oportunidades no mundo, mas não temos projeto concreto aqui

Gazeta Mercantil - E a venda da operação de estireno?
Está em andamento. A Basf procura um comprador mundial, porque nos vemos como uma empresa inovadora, e o estireno clássico é uma commoditie que enfrenta muita concorrência na Ásia , na China e Estados Unidos.

Gazeta Mercantil - Qual o produto inovador que deve despontar em breve?
Na área de plástico sempre existem tipos de plástico de alta qualidade para produtos especiais. A Basf também desenvolve plásticos com base de estruturas renováveis. Seguimos as tendências mundiais e este é o desafio que nos faz abrir novos mercados.

Gazeta Mercantil - Para quais produtos o Brasil é uma plataforma de exportação da Basf?
Em defensivos agrícolas temos uma unidade em Guaratinguetá que exporta mais de 80% da produção para a Europa. Mas nossa estratégia aqui é basicamente atender o mercado na América do Sul e Brasil. Nossa taxa de exportação não é grande. No volume é grande, cerca de US$ 200 milhões, mas no faturamento total é pequeno.

Gazeta Mercantil - Além de defensivos o que mais a empresa exporta do Brasil ?
Vendemos um pouco de especialidades químicas. Existe uma gama de produtos, mas a concorrência mundial torna a situação mais complicada porque temos problemas de logística. O porto de Santos é um dos mais caros do mundo, o que nos tira a competitividade, que só permanece para produtos especiais.

Gazeta Mercantil - O setor químico é muito pulverizado. Existe uma tendência de consolidação?
Sim, porque nesse mercado é preciso ter uma massa crítica para arcar com investimentos pesados em pesquisas, principalmente em áreas como o agrícola ou farmacêutica, que exigem muitos recursos. Com certeza, nos próximos 10 ou 15 anos teremos uma concentração porque em primeiro lugar faltam recursos para inovação em pequenas fábricas.

Gazeta Mercantil - O senhor citou a área farmacêutica. No Brasil uma das áreas que mais cresce é a de medicamentos genéricos. A Basf atua nesse mercado?
Fornecemos essas moléculas às farmacêuticas que produzem genéricos. Temos 10 ou 12 produtos diferentes.

Gazeta Mercantil - Como o senhor avalia o Brasil na fase atual?
Depois de seis anos de estabilidade o Brasil tem boas condições para crescer de forma sustentável. Tem vários motores de desenvolvimento, como agricultura, automotiva, construção e também a mineração. Tem uma situação muito boa hoje por ter uma independência do petróleo. Por isso, os preços das matérias-primas neste momento são uma grande vantagem.

Gazeta Mercantil - E como avalia o fato de a crise externa não afetar tão fortemente o País?
Essa situação mostra que existe uma confiança maior dos mercados financeiros e tem como base esse superávit que o Brasil tem na exportação que não tinha há seis anos. Esse crescimento em cada ano. As reservas que o Brasil tem hoje são suficientes para pagar sua dívida externa. Isso para o investidor estrangeiro sempre é um elemento importante da confiança porque um país emergente com grande dívida sempre significa um risco para o investidor.

Gazeta Mercantil - E a crise de alimentos?
Existe uma mudança de tendência mundial. Quando analisamos os últimos 12 meses todo mundo estava olhando para todos os mercados. Ninguém se importou muito com as matérias-primas. Agora esse quadro muda. Agora todo mundo esta olhando como fica a situação com essa crise dos alimentos e por isso a importância do Brasil vai crescer, acho que a China já percebeu isso porque está muito interessada. É a hora de o Brasil aproveitar todas as suas chances.

Rita Karam e Anna Lucia França

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